Fazedores de Cultura: conheça a história de dona Elvira Cornélia Negri Barroso, famosa por suas peças de tricô e crochê

Quem conhece dona Elvira Cornélia Negri Barroso, sabe como essa senhorinha de 87 anos emana alegria e tem muita história para contar.

11 de fevereiro de 2020 às 00h00.

  

Quem conhece dona Elvira Cornélia Negri Barroso, sabe como essa senhorinha de 87 anos emana alegria e tem muita história para contar.

Nascida em João Neiva, em 02 de agosto de 1932, Elvira conta que nessa época a cidade ainda era um povoado, com poucas casas e quase nenhuma opção de lazer, mas não foi por isso que deixou de ter uma infância feliz ao lado de seus irmãos e primos. Toda tarde, após ir à igreja, as crianças se reuniam para brincar de passar anel, pular corda e de pique, onde atualmente funciona a Farmashow. Rezar também era um momento de lazer para a menina. De família tradicionalmente Católica, todos se reuniam para rezar o terço todos os dias, talvez esse seja um dos motivos que fez dona Elvira ter uma fé tão grande e inabalável.

Aos oito anos, Elvira teve o seu primeiro contato com o tricô. Sua mãe Rayzza Helena Sarcinelli Negri fabricava peças de roupas ou de decoração para vender e ajudar no sustento da família.

A menina se viu encantada pela arte de transformar fios em muitas coisas e logo quis aprender. Ela conta que chegou a pedir uma agulha a sua mãe, mas não ganhou e nem por isso desistiu. Pegou duas varinhas de goiaba, afinou as pontas e começou a tecer os diferentes tipos de fios.

Com o passar dos anos, já na adolescência, ia com frequência à escola Liceu Pedro Nolasco. Nesse local, eram realizados muitos bailes e alguns jogos e brincadeiras. Dançar era o seu lazer preferido. Lá, ela se reunia com seus amigos e ficava por horas, dançando aos embalos das músicas da época, além de jogar pingue-pongue.

Nesse período, João Neiva tinha apenas duas escolas, a Barão de Monjardim e a Liceu Pedro Nolasco. Ela conta que teve “pouco estudo”, mas sempre teve um bom desempenho escolar e, por esse motivo, começou a lecionar muito cedo.

Segundo ela, uma das professoras precisou se afastar das atividades escolares e a diretora Hilda Britto a convidou para assumir as aulas. Ela brinca dizendo que o convite foi feito, porque na época sua letra era muito bonita e sua mão era firme para escrever no quadro. 

E por dois anos, a jovem Elvira comandou a sala de aula na escola Liceu Pedro Nolasco, sem receber um tostão, apenas para ajudar.

Aos 16 anos, a moça precisou mudar toda a sua vida para morar em outro Estado. Seu pai foi convidado para trabalhar em uma fazenda que ficava em Valadares, interior de Minas Gerais, assim, levando sua esposa, seu filho Humberto e sua filha Elvira.

Como já tinha experiência em dar aulas e precisava ajudar nas contas de casa, a moça teve a ideia de pedir para exercer a atividade por lá também. Sempre muito decidida e corajosa, sem conhecer ninguém, foi até o prefeito da cidade e pediu que lhe desse uma oportunidade. E por lá, ela ficou por dois anos lecionando para alunos da escola reunida.

Elvira voltou para João Neiva, ficando por pouco tempo e, novamente, precisou se mudar. Dessa vez, ela e sua família foram para Linhares, município vizinho de João Neiva. Seu pai foi chamado para ser vigia em um serraria e nesse mesmo local, Elvira conseguiu um emprego.

A moça nem imaginava que nessa serraria sua vida mudaria completamente. Por lá, ela conheceu Silvio, um rapaz tímido e muito bonito, que despertou sua atenção.

Elvira conta que a iniciativa de demonstrar interesse foi toda dela e que por muitas vezes, achou que o rapaz não fosse se interessar por ela. Mas após um bom tempo, os dois começaram a namorar. Esse namoro durou dois meses e logo eles noivaram, já com a data de casamento marcada.

Aos 22 anos, Silvio e Elvira decidiram se casar e formar sua família. O casamento aconteceu em João Neiva, mas eles continuavam morando em Linhares, na fazenda Santa Emília, na Lagoa Juparanã.

Após um ano de casados, a moça deu a luz ao seu primeiro filho. Um momento muito difícil na vida do casal, já que a criança nasceu morta.  Elvira passou por dificuldades em seu parto e quase perdeu sua vida. Mas os dois não desanimaram e após um tempo da perda de seu primeiro bebê, nasce Maria do Carmo, linda e cheia de saúde. Ainda morando na fazenda, o casal teve sua segunda filha, Alice Helena, a menina dos olhos verdes.

Depois de um tempo, o casal decidiu voltar para João Neiva, com suas duas filhas e seguir a vida por lá. Com o passar dos anos a família foi aumentando e os gastos também. Eram cinco crianças para alimentar e vestir, além de Maria do Carmo e Alice Helena, tinham agora, Paula Sílvia, Carla Magda, Luciana Nazaré e Silvio Romero. Foi aí que dona Elvira voltou a fabricar suas peças de crochê e tricô para ajudar no sustento da casa, pois seu esposo Silvio estava desempregado. Como ficou desempregado por três anos e era bastante criativo e responsável, fazia diversos serviços para os outros para sustentar sua família.

A fama de suas belas peças se espalhou pela cidade e as encomendas só cresciam. Foi com o seu artesanato que dona Elvira batalhou e ajudou seu marido a sustentar e educar os seus filhos.

Mas para eles a vida nunca foi fácil. Paula Sílvia, uma das filhas do casal, quando tinha três anos de idade, estava brincando de fazer fogueirinha com dois amigos e acabou sofrendo queimaduras em todo o corpo e, não aguentando os ferimentos, acabou falecendo.

Dona Elvira conta que foi um momento de muita tristeza, mas mesmo diante da morte da pequena, ela precisava ser forte para cuidar dos outros filhos e buscou toda essa força na fé no amor que tinha por eles.

No ano de 1962, seu esposo foi aprovado para trabalhar na ESCELSA e eles mudaram para Jacupemba (Aracruz). Lá Silvio foi escolhido para ser o chefe da operação, trabalhando com mais quatro operadores.

Silvio e Elvira moraram em Jacupemba por 10 anos, onde tiveram mais uma filha, Sílvia Aparecida. Lá fizeram muitos amigos. Transferido para João Neiva, moraram na cidade até Silvio se aposentar. Nesta cidade trabalharam para a construção da Igreja Matriz.

Elvira auxiliou nos serviços da igreja, sendo também catequista. Por muitos anos, sua família prestou serviço voluntário nas Feiras Distritais que aconteciam, por três dias, no Centro Comunitário, com o objetivo de angariar fundos para a construção do Hospital.

Com o passar dos anos, a maioria dos seus filhos se tornou professor ou profissional da área da educação. Certamente uma herança da mãe, que desde muito cedo já tinha amor pelo ambiente escolar.

Com quase todos os filhos já casados, eles se mudaram para a Barra do Sahy, no município de Aracruz, no ano de 1987, para realizar assim um antigo sonho de Silvio: morar na praia.

Lá havia poucas moradias e ela soube que sua sobrinha Ana Regina Negri e Luzia Pessotti faziam orações nas casas das famílias e gostariam de construir uma igreja. Porém Ana Regina faleceu após três meses que ela estava lá e a comunidade deixou de ter os encontros de oração. Elvira então foi motivada a realizar o sonho delas. Começou a pedir dinheiro para construção da igreja Católica, junto de seu esposo e alguns membros da comunidade. Voltou a fazer os encontros de oração nas casas e nas escolas, até que a igreja fosse construída. E assim, o sonho se concretizou. A Igreja Católica Sagrada Família, Barra do Sahy, Aracruz foi inaugurada no dia 27 de janeiro de 1990. Ela relata que foi muito difícil, mas não impossível.

Elvira ficou viúva há cerca de 11 anos, mas sempre lembra de Silvio com um sorriso no rosto. A casa, onde ela mora sozinha em João Neiva, é cheia de fotos do casal espalhadas por todos os cantos, lado a lado com as fotos dos filhos e netos. E ela sabe o nome de todos, sem errar ou esquecer nenhum.

A senhorinha serena, como a própria se refere, mesmo com suas limitações, não perde o sorriso e a vontade de viver. Sorridente, extrovertida e com uma memória única, ela conta sua vida sem errar ou esquecer, sequer, algum detalhe.

Além de contar, ela também guarda sua história em uma caixinha cheia de documentos. Dona Elvira ainda tem a carta que seu marido a escreveu quando foi pedir sua mão em casamento. Ela conta que guarda todas essas recordações, pois sente muita saudade de quando era jovem e essa é uma forma de amenizar a saudade e reviver esse tempo que foi tão prazeroso para ela.

Questionada se ainda faz crochê e tricô, muito orgulhosa, ela abre uma gaveta com as últimas peças confeccionadas e fala que não só faz, como ainda aceita encomendas e que não pretende parar tão cedo.

Elvira, parar talvez não seja uma palavra recorrente em sua vida. Dona de uma alegria contagiante e uma inteligência única, conta que escrever é uma de suas distrações, além de assistir e torcer muito a quase todos os jogos de futebol, vôlei e basquete. 

Ouvir suas histórias de vida, de seus 87 anos bem vividos nos proporciona esperança e prazer. E que vida, que história, que legado dona Elvira Cornélia Negri Barroso, deixará para esse município.

 

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