
Neste domingo (11) o município de João Neiva comemorou 37 anos de Emancipação Política. A data marca um capítulo fundamental na história da cidade, que até 1988 era distrito de Ibiraçu. A luta pela autonomia administrativa, no entanto, começou décadas antes e envolveu diversos líderes políticos, representantes da sociedade civil e movimentos populares que não mediram esforços para garantir que João Neiva tivesse sua própria identidade e governo.
A caminhada rumo à emancipação começou ainda na década de 1960, quando o processo foi pela primeira vez protocolado na Assembleia Legislativa, mas seguidamente engavetado, devido ao fato de não haver o preenchimento populacional das duas áreas.
Durante muitos anos a liderança política mais influente da região, Nilzo Plazzi, tentou emplacar o projeto, sem sucesso. O cenário começou a mudar em 1982, com a eleição de Jauber Pignaton (PMDB) como prefeito de Ibiraçu, eleito com grande apoio popular do então distrito de João Neiva. O vice-prefeito era empresário joãoneivense Claudino Gadioli, que infelizmente faleceu no início do mandato. “A ideia da emancipação renasceu no âmbito do CDL durante as prévias para eleição municipal, vinda de um movimento de todos os empresários de João Neiva”, informa o advogado e ex-vereador Apolônio Cometti, que atuou como verdadeiro articulador jurídico e político do processo.
Já na Câmara de Vereadores a mobilização ganhou ainda mais força com o empenho de Apolônio. “A demanda pela emancipação era antiga e legítima. Atuamos com firmeza para reunir os dados, atualizar o censo e dar os trâmites legais ao pedido. Foi um trabalho técnico, político e também de muita sensibilidade social", relembra o advogado, que foi eleito vereador com forte apoio popular e do empresariado, tendo liderado o trâmite para a criação da nova cidade a partir do requerimento que deflagrou a reabertura do processo de emancipação propriamente dito, em 23 de janeiro de 1984.
A criação da “Comissão Pró-Emancipação de João Neiva”, composta por 30 membros e contando com representantes de todas as localidades envolvidas, ocorreu já no final do processo, ou seja, para a organização da sociedade local para a etapa do plesbicito. A comissão, formada por lideranças apartidárias, organizou-se em grupos de trabalho para estudar também a viabilidade técnica, territorial e econômica do novo município. “Um dos principais entraves era a exigência legal de que os municípios originários e desmembrados tivessem, cada um, pelo menos 10 mil habitantes. Uma reavaliação feita pelo IBGE em 1987 revelou que o então distrito de João Neiva possuía cerca de 12 mil habitantes, enquanto Ibiraçu contava com 9.700, cujo número era insuficiente”, explica o historiador Adriano Rizzolli Godoy, que pesquisa a história política da região.

A solução veio através de uma reorganização dos limites territoriais, com o apoio do prefeito Jauber e do Instituto de Terras e Cartografia (ITC), que alterou as divisas, incorporando regiões como Monte Seco e Caboclo Bernardo ao território que ficaria para Ibiraçu, garantindo que ambas as partes ficassem com a população mínima exigida. “Foi um gesto político ousado e estratégico. Sabíamos que era o momento certo”, destaca Cometti.
O atual vice-prefeito, Glauber Tonon, reforça o protagonismo coletivo desse feito: “Foram muitas mãos, muitas vozes e muito trabalho. Seria até injusto citar nomes, pois cada um contribuiu de forma única. Essa vitória é de todo o povo joãoneivense. Mas, com certeza, não posso deixar de mencionar Apolônio, porque a causa da emancipação foi uma luta intensa para ele. É algo que o emociona até hoje”.

O famoso plebiscito
No dia 8 de maio de 1988 a população foi às urnas em um plebiscito histórico: 93% dos votantes disseram “sim” à criação do novo município. A festa tomou conta das ruas de João Neiva. A votação, que ocorreu nas escolas, encerrou-se às 17h tendo a apuração sido realizada no Centro Comunitário. Somente os cidadãos do então distrito votaram. Três dias depois, em 11 de maio, a Lei Estadual n.º 4.076 foi sancionada pelo então vice-governador em exercício Carlos Alberto Cunha, oficializando o nascimento da cidade.
A alegria daquele momento permanece viva. “João Neiva é um exemplo de como a vontade popular, quando bem organizada e persistente, pode transformar o destino de um povo. Foi um processo conduzido com responsabilidade, técnica e muita luta”, afirma o atual prefeito Paulo Sérgio Micula.
Para Apolônio, que acompanha de perto os registros da cidade, aquele momento simbolizou muito mais que uma mudança administrativa. “Foi um divisor de águas e a realização de um sonho da população de ver transformado o distrito de João Neiva em cidade, que representava o sonho de autonomia e progresso. A população entendeu que ali nascia não só um novo município, mas uma nova identidade, forjada com união e coragem”.
Primeira eleição
A cidade seguiu avançando. Em 15 de novembro de 1988 foi realizada a primeira eleição municipal, com a vitória de Aluizio Morelatto, do PDS, que assumiu a prefeitura em 1º de janeiro de 1989, ao lado do vice José Ivo Secomandi (sendo eleitos com 2456 votos). A primeira Câmara de Vereadores foi composta por 13 parlamentares, sendo o mais votado Antônio Pandolfi. A presidência da Câmara foi assumida por Jurandir Mattos do Nascimento.

Além deles, fizeram parte daquele legislativo: Alecio Jocimar Fávaro, Augusto Tessarolo, Natalino Antonio Gasparini, José Geraldo Colombo, Ailton Fornaciari, José Domingos Del Pupo, José Carlos Alves dos Santos, José Francisco Grippa, Edson Luiz Dal Piaz Coutinho, Maria Luiza Casotti Louzada e Waldemar José Barros.
Os candidatos que concorreram à primeira eleição para prefeito de João Neiva foram:
· Aluizio Morelatto (PDS), com o vice José Ivo Secomandi (PFL);
· Otávio Abreu Xavier (PT), com o vice Joel Pinto de Oliveira (PT);
· Rogério Favalessa (PMDB), com o vice Renato Marim (PMDB);
· Valério Loureiro (PTB), com o vice Dilson Ferreira (PTB).
Abaixo os votos contabilizados:
· Total de urnas – 32
· Votos apurados – 7487
· Votos válidos – 7164

Pós-emancipação
João Neiva emergiu com força no cenário estadual, ficando entre os 20 maiores municípios do Espírito Santo em termos de área territorial, população e arrecadação. A cidade passou a administrar localidades como Acioli, Cavalinhos, Barra do Triunfo, Valada de Cavalinhos, Pasto Novo, Demétrio Ribeiro, Juá, Santo Afonso, Piraqueaçu, Ribeirão de Cima e Cristal, onde ostenta o 3° IDH dentre os municípios do Estado do Espirito Santo desde 2010.
A emancipação de João Neiva também inspirou outros movimentos pelo Espírito Santo, onde também se tornaram municípios Vargem Alta, Santa Maria de Jetibá, Venda Nova do Imigrante, Água Doce do Norte, Alto Rio Novo, Laranja da Terra, Águia Branca e Ibitirama.
Hoje, 37 anos depois, “a cidade segue escrevendo sua história com autonomia, desenvolvimento e orgulho da sua identidade. A comemoração deste ano reforça não apenas a memória da luta pela emancipação, mas também os compromissos com o futuro”, enfatiza Micula.
Logo após a eleição e com o início das atividades, Apolônio Cometti foi nomeado o procurador-geral do novo município, ficando sob sua responsabilidade a elaboração de toda a legislação de João Neiva. “Contamos com a incondicional colaboração de todos os vereadores, que de forma uníssona e independente de lados partidários contribuíram para que a legislação necessária a viabilizar a organização do novo município se realizasse no prazo mais rápido possível”, ressalta o advogado.
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